Eu nasci em Brasília há exatos 40 anos e, como fotógrafo, aprendi a enxergar a cidade com um olhar diferente, buscando sua essência em cada detalhe. Cresci entre suas amplas avenidas, seus eixos largos e espaços verdes, que se misturam com o céu mais bonito que já vi. Muitos de fora veem Brasília como uma cidade fria, feita de concreto e distâncias, mas para mim, ela sempre foi uma tela viva, em constante mudança, esperando ser capturada.
Desde pequeno, eu já caminhava pelas superquadras, mas foi na adolescência que descobri minha paixão por fotografar o cerrado e a arquitetura de Niemeyer. A luz que banha a cidade, principalmente no final da tarde, sempre me encantou. Não há outro lugar onde o pôr do sol faça o concreto parecer tão suave, onde as sombras e as curvas se encontrem de uma forma tão perfeita. Para mim, Brasília é mais que o plano cartesiano, é uma composição em constante transformação.
Comecei fotografando o cotidiano, as pessoas indo e vindo no Eixão, os ipês florescendo e colorindo as quadras, o reflexo das cúpulas do Congresso no espelho d'água. A cidade me oferece um cenário único a cada estação. No início da seca, gosto de capturar o contraste do céu azul profundo com o dourado da vegetação. Já no início das chuvas, é o cheiro da terra molhada e o verde renascendo que me inspiram a pegar a câmera.
O que mais me fascina é como Brasília se revela em detalhes que passam despercebidos para a maioria. O desenho das colunas do Palácio da Alvorada, as linhas futuristas da Catedral, o Lago Paranoá que reflete o céu como se fosse uma pintura. Cada canto da cidade conta uma história, e como fotógrafo, meu trabalho é capturar essas narrativas escondidas.
Aos 40 anos, depois de muitos cliques e muitas exposições, continuo explorando a cidade com o mesmo encantamento de antes. Fotografar Brasília é, para mim, uma forma de retribuir o que ela me deu. Meus filhos brincam onde eu brinquei, e agora vejo a cidade pelos olhos deles também. O que muitos chamam de cidade sem esquinas, para mim é o lugar onde a luz encontra a sombra de maneira mais bela, e onde cada imagem conta um pedaço da minha própria história.
Quando olho para uma foto que fiz do céu rosado do entardecer ou do reflexo dos prédios no lago, sinto que capturei um pedaço da alma de Brasília. É um amor construído em cada clique, em cada raio de luz. Aqui, encontrei não só meu lar, mas também a inspiração infinita para a minha arte.
@vinnyfoto