FOTO: Entrada da Vila Planalto, Brasília-DF. (Foto: Tony Winston / Agência Brasília)

 

Reportagem: Brenda Freitas, Flávia Lima e Giovanna Ribeiro


Barracos de madeira, goteiras, muita poeira e esgoto escorrendo na rua. Essas são algumas das lembranças que Leiliane Rebouças guarda de sua infância. A realidade de quem morou na Vila Planalto não foi das melhores. Tentativas de remoção, preconceito e outras dificuldades sempre batiam a porta. Mas, de acordo com ela, nada disso apaga o brilho de ter crescido em um dos primeiros territórios habitados de Brasília e que representa o testemunho da construção da capital e da luta por reconhecimento.

Apesar de tudo, as relações interpessoais fizeram Leiliane ficar. ?Não é como nas outras cidades, onde você não conhece o seu vizinho. Aqui, quando um passava dificuldade os outros ajudavam, o sentimento de solidariedade sempre falou mais alto. É como se fossemos uma grande família. Então, por conta dessas peculiaridades, minha relação com a Vila sempre foi de muito carinho e amor pelo lugar e principalmente pelas pessoas?, conta.

E esse sentimento, aliado à personalidade curiosa e à realidade em que estava inserida, fez com que ela estivesse ligada às questões comunitárias da região. ?Sempre fui muito atenta às coisas que aconteciam. Eu gostava de assistir jornal. Minha mãe, embora não fosse uma mulher muito estudada, era muito inteligente e ligada a tudo que acontecia na vila. Ela era uma costureira conhecida. Por isso, minha casa sempre foi muito frequentada pela comunidade. E isso ajudou a criar fortes laços com as pessoas e a conhecer melhor a realidade de cada um e a realidade da coletividade mesmo?.

Então, com apenas 10 anos de idade, Leiliane escreveu uma carta para a presidência da república contando como viviam os operários e moradores da Vila Planalto, sob risco iminente de expulsão, e pedindo a fixação da região. O então presidente, José Sarney, respondeu à carta e encaminhou para o governador do Distrito Federal. Dois anos depois, o pedido foi atendido.

FOTO: Leiliane entrega carta a Sarney, 1986. (Foto: Arquivo Pessoal)


Assista no vídeo a seguir o depoimento de Leiliane sobre a Vila e sobre sua luta pela região.

https://www.youtube.com/watch?v=JOBDi-mUTxE&feature=emb_title

Antônio Donizete Da Silva, 63 anos, também foi um dos importantes líderes para a fixação da Vila Planalto. Ele chegou em Brasília com sua família em 1975 e permanece lá até os dias de hoje. No vídeo, ele conta os obstáculos que enfrentaram para a fixação da vila e a formação de grupos como forma de conscientizar os moradores para a importância da fixação da Vila Planalto.

https://www.youtube.com/watch?v=QmfFoNMLzCE&feature=emb_title

Maria Benedita foi uma das integrantes do famoso Grupo das Dez, que lutava pela fixação da Vila e por melhorias para a comunidade. O grupo recebeu esse nome por ter sido fundado por dez mulheres: Maria Albaniza, Maria Benedita, Leila Regina, Ana Lúcia, Maria Vicente, Wanda Corso, Aparecida Arantes, Iara Lúcia, Ercilia, Icila Damasceno, Maria Soberana e Fia.

FOTO: Leiliane e o ?Grupo das Dez? em audiência com o Governador José Aparecido, 1986. (Foto: Arquivo Pessoal)


Ouça o trecho da entrevista em que Maria Benedita relata as dificuldades que o grupo enfrentou para a fixação da Vila Planalto.

https://soundcloud.com/giovanna-ribeiro-584487791/maria-benedita

A ocupação da Vila Planalto começou com o início da construção de Brasília. As construtoras Rabelo e Pacheco Fernandes foram as primeiras a montar acampamentos na região para erguerem o Palácio da Alvorada, o Eixo Monumental e a Praça dos Três Poderes. Mais de 20 empreiteiras se instalaram onde hoje é a Vila Planalto para trabalhar nas edificações. Ainda hoje, os endereços da Vila Planalto estão organizados de acordo com um dos quatro acampamentos que compõem a região: Rabelo, Pacheco Fernandes, DFL e Tamboril.

FOTO: Quatro acampamentos que compõem a Vila Planalto: Rabelo, Pacheco Fernandes, DFL e Tamboril. (Fonte: SEDUMA)


A Associação de Moradores da Vila Planalto foi criada em 1982 durante a luta pela sua fixação e tem trabalhado desde então na busca de melhorias para a comunidade. Morador da região desde que nasceu, o servidor público Vantuil Paulo de Santana, 54 anos, é presidente da associação desde 2008 e organiza encontros frequentemente para discutir a situação do bairro histórico.

https://soundcloud.com/giovanna-ribeiro-584487791/vantuil-paulo-de-santana

FOTO: Card datas importantes


Hoje, a Vila Planalto não é mais a mesma. Foi tombada como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade e consolidada oficialmente como bairro brasiliense. Além disso, a região conta com diversas opções de lazer, muito visitadas por moradores da região e visitantes de outros locais.

Reportagem de Brenda Freitas, Flávia Lima e Giovanna Ribeiro.
Trabalho desenvolvido na disciplina Laboratório de Jornalismo II, do curso de Jornalismo do IESB, sob supervisão da profa. Luciane Agnez.