Personagens femininas que, muitas vezes, foram relegadas a papéis secundários em clássicos do teatro são repaginados e ganham novas cores em suas vivências. Baseada nas tragédias shakespearianas, a atriz Déborah Alessandra criou o espetáculo "A Coruja Era Filha do Padeiro", uma dramaturgia autoral que conta com apresentação solo e direção conjunta com Rogério Luiz.
A produção inédita é realizada com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal e estará em cartaz neste fim de semana nos dias 19, 20 e 21 de setembro. Ainda, dias 3, 4 e 5 de outubro de 2025 sempre às 20h, na Quadra 10 Conjunto C Lote 40 Loja 1 do Varjão. Gratuito. Retirada na hora. Mais informações no Instagram: @zileidestudium.
"A Coruja Era Filha do Padeiro" é o produto final do projeto de pesquisa artística e montagem teatral Shakespeare nas Cores do Presente, uma iniciativa que posiciona o trabalho não apenas no palco, mas também como um estudo aprofundado sobre a utilização de clássicos dramatúrgicos em montagens de teatro contemporâneo, perspectivas de gênero, história e emancipação.
Em cena, Déborah interpreta mulheres historicamente presas a enredos ditados por homens e reescreve a história dessas mulheres para que sejam protagonistas das suas próprias histórias. "É uma peça que, ao propor narrativas e fluxos temporais não-lineares, rompe com formatos tradicionais, permitindo que as experiências de mulheres separadas por séculos e contextos se sobreponham, criando um mosaico de vozes femininas que dialogam através do tempo e estabelecem uma jornada emocional que as conecta", explica a atriz.
Ela acrescenta que, como as peças de Shakespeare se apresentam em cinco atos, o espetáculo propõe o que pode ser metaforicamente chamado de "Sexto Ato" das tragédias shakespearianas, rompendo com a estrutura clássica, que frequentemente culmina na inevitável ruína feminina. "Trata-se de um gesto de referência literária e radicalidade criativa que busca abrir um espaço poético e discursivo de ampliação ou modificação da atuação das mulheres", destaca.
Hamlet - Segundo a artista, um dos elementos fundadores do trabalho está em seu título, "A Coruja Era Filha do Padeiro". Essa frase, aparentemente enigmática, é uma referência direta a uma fala de Ofélia em sua cena de loucura em Hamlet. A escolha do título posiciona no centro da peça a perspectiva de uma das personagens mais negligenciadas e tragicamente passivas de Shakespeare. A expressão remete a uma antiga lenda popular na qual a filha de um padeiro foi transformada em uma coruja por Cristo após ela se recusar a dar pão a ele, quando ele se passava por mendigo. Na boca de Ofélia, a frase carrega um tom de advertência, aprofundado pela fala "nós sabemos o que somos, mas não sabemos o que podemos ser".
Ações educativas gratuitas - O projeto conta ainda com ações educativas. Dentre elas, o Programa de Mentoria para Mulheres Periféricas, que terá seis atividades formativas gratuitas, ministradas pelas agentes sociais e culturais Ana Flávia Garcia, Gyssele Mendes, Manuela Abdala, Maria Eugênia Matricardi, Rose Samyra e Victória Carballar. Haverá ainda o Programa de Mediação, que prevê atividades educativas que favoreçam uma fruição profunda do espetáculo a cinco turmas de escola pública, contribuindo para a formação dos estudantes e para a sensibilização de público quanto a trabalhos artísticos.
Serviço
Datas: 19, 20 e 21 de setembro de 2025; 03, 04 e 05 de outubro de 2025.
Horário: 20h
Ingressos: gratuitos (retirada no local)
Local: Quadra 10 Conjunto C Lote 40 Loja 01 Varjão
Mais informações no Instagram: @zileidestudium
Não recomendado para menores de 14 anos.
Fonte: Clara Camarano